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Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

TERRA AFRICANA ( ALGURES EM ANGOLA ) ( FINAL )

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As picadas ficam sempre intransitáveis devido às chuvas, que na sua época são intensas, tudo alagando e tudo destruindo, deixando-nos sem possibilidades de reabastecimentos. Nesses casos últimos socorriamo-nos das nossas reservas de caça, pois a zona onde me encontrava era maravilhosamente rica de toda a espécie de animais, desde a palanca à hiena, do leão ao macaco e do porco espinho ao javali cinzento de bossa e ao " burro do mato " ( tipo de impala ), não esquecendo a pacaça que, essa sim, era a nossa principal fonte de alimentação animal --- raramente se matavam palancas, pois, embora a carne fosse muito saborosa, eram peças pequenas, cuja carne rapidamente desaparecia no fundo das panelas dos ranchos e havia por esse motivo necessidade de apanhar peças maiores e mais rentáveis . . .
O meu gosto por animais --- vivos, diga-se de passagem --- era tanto, que cheguei a ter para além do meu fiel " Côté ", uma Carraceira --- ave branca extremamente meiga e dócil, que consegue conviver com o ser humano sem dele sentir medo, e me fazia as minhas delicias, pois vinha ao meu chamamento andando completamente solta pelo aquartelamento --- e duas hienas de estimação, que infelizmente morreram, embora não fosse por falta de cuidados ou de alimentação, mas talvez por alimentação a mais uma delas e a outra por ter caído de um terceiro andar de um prédio em Luanda, quando já não me pertencia por a ter oferecido a um camarada amigo, que m'a pediu insistentemente e a quem não pude dizer " Não ", para não falar de uma jibóia, que passou a vida dentro de um bidão comendo galinhas até que uma bala acabou com ela só restando a pele que trouxe comigo depois de devidamente seca e tratada --- foi o que se podia chamar uma pele tratada a creme de galinhas --- . . .
Apesar de todas as contrariedades devido à situação de guerra, que coisa maravilhosa era ver e sentir a Natureza nesta Terra Africana onde, por vezes, três ou quatro palancas saltavam em fila indiana, mostrando verdadeiros voos, cheias de ligeireza e graciosidade, ou imensas nuvens compostas de milhões de pássaros de onde se destacavam as " Viúvas " com as suas negras caudas compridas e os seus bicos vermelhos, cuja fisionomia mais se assemelha a um pardal do que a um corvo, a cuja família pertence, nuvens essas que, sobrevoando as nossas cabeças a baixa altitude em voo rasante, enchiam os ares com alegres e estridentes pios .
. . . E lá continuamos a nossa viagem para S. Salvador, para nos reabastecermos, pois esta era a única maneira possível . . . e o objectivo imediato da coluna .
. . . Mas . . . olhemos agora por entre as nuvens . . .
O " pôr-do-sol " nesta região é digno de ser admirado .
Um vermelho-arroxeado começou a tingir as nuvens no céu. Por entre elas o sol declinava-se no horizonte. Num momento todo o céu se transformou em fogo. Uma enorme bola vermelha-laranja descia lá longe . . .
Depois . . . à medida que o sol se ia escondendo, o céu parecia mais vivo de cores. Sangue raiado de amarelo, verde e azul anilado eram as cores mais preponderantes que encaixilhavam os topos dos montes selváticos e caprichosos. O sol desapareceu totalmente para lá da Serra da Canga. As nuvens baixaram sobre os vales próximos e o dia quente e asfixiante deu lugar à noite húmida e fria, repleta de escuridão .
. . . Chegámos enfim a S. Salvador, onde pernoitámos, depois de enchermos as viaturas com o máximo possível de reabastecimentos no Pelotão de Intendência e aí as deixarmos resguardadas para, na manhã seguinte, regressarmos aos nossos aquartelamentos da Mamarrosa, Canga, M'poso, Luvo e Magina .
Tudo acabou neste dia, mas na manhã seguinte tudo recomeçou com o reaparecimento do astro-rei entre o estranho manto de cacimbo, que sempre cobre na noite escura os vales da Terra Africana . . .

Mamarrosa ( Norte de Angola ), 1968

1º. Prémio de Contos e Narrativas nos Jogos Florais da Casa dos Açores no Rio de Janeiro, Brasil em 1977
Publicada no " Portuguese News " de Boston em Março de 1983

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