SEJAM BEM VINDOS A ESTE BLOG

Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

sábado, 29 de janeiro de 2011

OS GALOS DA TORRE

Eu ouvi cantar um galo
No alto da torre norte
Ninguém conseguiu levá-lo
Vejam lá a minha sorte

Na Mafra de tempos idos
Que a minha infância viveu
Bons tempos foram vividos
Nosso limite era o céu

Eu sei bem do que vos falo
Bem podeis ter a certeza
Comeram qu’era um regalo
Eu só tive a sobremesa

Era eu muito traquina
Não faltava brincadeira
Do Sardinha foi na Esquina
Que vivi a maroteira

Em casa dois galos tinha
brancos altivos capões
Logo aqui se adivinha
                       Como arranjar uns tostões

Da fama não me livrei
E saiu a um remontista ( * )
O galo que eu rifei
Naquela tarde bem quista

Cada rifa dois tostões
P’ra jogar aos matraquilhos
Sem pensar c’os meus botões
                        Meti-me logo em sarilhos

Quando então me perguntaram
Os que à paródia assistiram
Que galos é que rifaram
O Xico e Mané abriram

Fiquei eu sozinho ali
Sem saber o que fazer
Olhei p’rá torre e lá li
O que havia de dizer

Se você ganhou o galo
Pouco tem mais a fazer
Vá lá cima, vá buscá-lo
E desatei a correr

Também houve quem dissesse
Fazer parte da contenda
São coisas que se não ‘squece
Pois é mentira tremenda

Eram só duas pessoas
As que as rifas compraram
Por não saberem outras boas
Ao conto pontos juntaram

Muitos anos já passaram
Nunca houve reprimenda
E sobre mim transformaram
Esta história numa lenda.


  • Remontista – Tratador de cavalos na Remonta ( hoje denomina-se CMEFED - CENTRO MILITAR DE EDUCAÇÃO FISICA, EQUITAÇÃO E DESPORTOS )
  • Esquina do Sardinha - onde paravam nessa época as camionetas da Mafrense e onde se juntavam as pessoas para dar dois dedos de conversa
  • Mané - meu irmão João Manuel Ivo da Silva
  • Xico - Francisco José da Silva Alves Gato, meu primo
  • Ericeira, 18 de Janeiro de 2011 ( 23H05 )
Publi. in " O CARRILHÃO " de 15 de Fevereiro de 2011

AS NUVENS

( No céu as nuvens são )


Tristeza, sol, amor e fantasia,
Criação, pureza, mera falsidade,
Calor e frio em alegre melodia
Numa distante e já ida realidade

Castelos, lendas, louca correria
Num espelhar de ave na sua liberdade
Sobre a calma ou revolta maresia
De um mar sem terra pleno de saudade

No ar se enxergam os desenhos seus
Imagens belas, meigo entardecer
Num rubro sol lá nos confins dos céus

E já bem longe, quando amanhecer
Das tristes névoas, ânsias dos seus véus,
Que a final nos querem envolver

Ericeira, 06 de Janeiro de 2011 ( 20H00 )
Publicado in " O ERICEIRA " de 10 de Janeiro de 2011
Publicado in " O CARRILHÃO " de 1 de Fevereiro de 2011 ( Ano XXX - nº. 732 )

A PESCA DOS MEUS AMIGOS

Nesse teu seio, ó mar, não me leves
dos meus amigos, qualquer que ele seja,
durante a faina enquanto houver peleja
por alimento, por bastar nos serves

Pequenas nozes baloiçando em breves
períodos nostálgicos, que a vista veja
em sentimentos que o fervilhar deseja
sejam bem calmos mesmo sobre as neves

que as ondas mostram na labuta árdua
acompanhadas de ventos tiritantes
e ao longe os escolhos dos rochedos

vão acenando num farol aceso
no nevoeiro cerrado e tortuoso
que alteia nas marés os nossos medos

25 de Dezembro de 2010
Publ. in " O ERICEIRA "  de 10 de Janeiro de 2011
Publ. in " O CARRILHÃO " de 15 de Janeiro de 2011

O MEU EPITÁFIO

Na terra mole, triste e escavada

Naquele dia em que o caixão se afunda

Só espero que a igreja se inunda

De rosas brancas toda engalanada


Sobre o caixão uma rosa avermelhada

Na qual a minha vida se aprofunda

Música suave em meu redor abunda

Trazendo a paz da rosa branca amada


Me levem de esquife à última morada

Rapidamente se possível for

Diminuindo a dor que vos corrói


Leiam então na lápide gravada

A derradeira mensagem de amor

“ Aqui jaz quem qu’ria ser mas nunca foi “


Lisboa, 8 de Janeiro de 2008

O DESTINO É O PÔR-DO-SOL

Vão meus sonhos fugindo entre os dedos
Passo o tempo sem ver seu cumprimento
Em verdade não mais que um vão lamento
que se embrenha na teia de meus medos

Suspirando o desígnio de meus credos
nada há que inverta meus tormentos
Passo os dias … mudam sentimentos
Passo as noites só com gostos azedos

Vou tentando esta busca da verdade
incapaz de lutar na minha dor
que se espalha p’lo corpo adormecido

Nesta roda só sinto a falsidade
envolvendo meu ser já sem calor
sem deixar de estar só e arrependido                           

Lisboa, 28/12/2002

O TURBILHÃO DA MINHA VIDA

Estou farto
Na plenitude da minha consciência
Estou farto de tudo isto
E daquilo
E daquele outro
Como diria a minha avó
Estou farto de estar só
Cambaleante rodeado de energúmenos
De salteadores do espírito que é meu
Porque possuo o Fogo de Orfeu
Nas minhas carnes, no meu âmago,
Na minha vitalidade anímica
No meu ser tão aviltado
Porque humano e não adulterado
Sem ser sócio
Nem ter palavreado
E tão somente a vida que é vida
Como se vivesse dentro de uma ermida
Em redoma envidraçada
Polvilhada de lazúlis cristalinos
Emoldurada em turbilhão de pedras
Secas, poeirentas, negras, só de pedras
Aquela amarfanhada
Pelas quezílias e queixumes
De horas amargas e perfumes
Que enchem o ar da minha madrugada

Lisboa, 8-10-1995

A UMA COLEGA ( da TAP ) EM FINAL DE CURSO DE DIREITO

No tempo que passaste de estudante
queimando as pestanas no altar
que Cícero tão bem soube cantar
expurgando Catilina num instante

e noutro um Breviário resultante
de Alarico e te obrigou a dar
o máximo dos máximos e arcar
de responsável teor o teu semblante

Amiga minha, Ana Margarida,
os tempos são efémeros, podes crer.
Não esquecerás ao longo desta vida,

com força de vontade e teu saber
irás bem longe na manhã querida
onde a justiça irá prevalecer

Lisboa, Maio de 1995

A IDADE E A VIDA


É triste ver fugir o doce vento
Que abala meus princípios imutáveis
Luz, Juventude e Vida inalteráveis
Tão entranhados neste Pensamento

Noção Perfeita de um dado momento
Que se esgueira em paisagens adoráveis
O Alfa e o Ómega inseparáveis
Quando a Vida é de vidas um tormento

De Velho e Louco … Já não sei pensar
Não há mais forças que longe me levem
Perdi a esperança neste meu cantar

De cisne amargo que suas penas pesem
Já nem papoilas consigo afagar
Neste trigal onde ‘spigas não florescem

Lisboa, 1994

O PENSAMENTO

Publicado in " O CARRILHÃO "  de 01Maio2012

Como me sinto só, abandonado
Nesta cruz de martírio e paixão
Os que me ouvem, não sei se o dirão
Que quase sou um ser inanimado

Porque no espaço vejo transformado
O mundo que encerra esta razão
Que sem razão de ver, o coração
Mantém em si a Essência do passado

Piso de brando as pedras do Caminho
Num afagar de corpo inerte e frio
Como a palavra suja o pergaminho

Transformação perpetua em doce rio
Que nasce nas Alturas com carinho
Desaguando em turbilhão sem brio

Lisboa, 1994

PREMEDITAÇÃO

Passou o tempo sem por ele dar
Perdi os sonhos nesta criação
Profunda aurora, justa exaltação
No meu esperado e lento caminhar

Vãs ilusões que vejo terminar
Num todo impar sem resolução
" Porquês " da Vida, vaga afirmação
Num lato reino de flores e mar

Entrei no sono, que os justos dormem
No esquecimento natural e frio
D’uma inverdade posta a circular

Pois sou como outros tantos que se metem
Em águas turvas, conturbado rio,
C’o a doce esperança de voltar a amar

Lisboa, 1994