Eu ouvi cantar um galo
No alto da torre norte
Ninguém conseguiu levá-lo
Vejam lá a minha sorte
Na Mafra de tempos idos
Que a minha infância viveu
Bons tempos foram vividos
Nosso limite era o céu
Eu sei bem do que vos falo
Bem podeis ter a certeza
Comeram qu’era um regalo
Eu só tive a sobremesa
Era eu muito traquina
Não faltava brincadeira
Do Sardinha foi na Esquina
Que vivi a maroteira
Em casa dois galos tinha
brancos altivos capões
Logo aqui se adivinha
Como arranjar uns tostões
Da fama não me livrei
E saiu a um remontista ( * )
O galo que eu rifei
Naquela tarde bem quista
Cada rifa dois tostões
P’ra jogar aos matraquilhos
Sem pensar c’os meus botões
Meti-me logo em sarilhos
Quando então me perguntaram
Os que à paródia assistiram
Que galos é que rifaram
O Xico e Mané abriram
Fiquei eu sozinho ali
Sem saber o que fazer
Olhei p’rá torre e lá li
O que havia de dizer
Se você ganhou o galo
Pouco tem mais a fazer
Vá lá cima, vá buscá-lo
E desatei a correr
Também houve quem dissesse
Fazer parte da contenda
São coisas que se não ‘squece
Pois é mentira tremenda
Eram só duas pessoas
As que as rifas compraram
Por não saberem outras boas
Ao conto pontos juntaram
Muitos anos já passaram
Nunca houve reprimenda
E sobre mim transformaram
Esta história numa lenda.
- Remontista – Tratador de cavalos na Remonta ( hoje denomina-se CMEFED - CENTRO MILITAR DE EDUCAÇÃO FISICA, EQUITAÇÃO E DESPORTOS )
- Esquina do Sardinha - onde paravam nessa época as camionetas da Mafrense e onde se juntavam as pessoas para dar dois dedos de conversa
- Mané - meu irmão João Manuel Ivo da Silva
- Xico - Francisco José da Silva Alves Gato, meu primo
- Ericeira, 18 de Janeiro de 2011 ( 23H05 )
Publi. in " O CARRILHÃO " de 15 de Fevereiro de 2011