Estou farto
Na plenitude da minha consciência
Estou farto de tudo isto
E daquilo
E daquele outro
Como diria a minha avó
Estou farto de estar só
Cambaleante rodeado de energúmenos
De salteadores do espírito que é meu
Porque possuo o Fogo de Orfeu
Nas minhas carnes, no meu âmago,
Na minha vitalidade anímica
No meu ser tão aviltado
Porque humano e não adulterado
Sem ser sócio
Nem ter palavreado
E tão somente a vida que é vida
Como se vivesse dentro de uma ermida
Em redoma envidraçada
Polvilhada de lazúlis cristalinos
Emoldurada em turbilhão de pedras
Secas, poeirentas, negras, só de pedras
Aquela amarfanhada
Pelas quezílias e queixumes
De horas amargas e perfumes
Que enchem o ar da minha madrugada
Lisboa, 8-10-1995
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