SEJAM BEM VINDOS A ESTE BLOG

Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ORAÇÃO EM NOITE DE NATAL ( CANÇÃO PARA CORAL )


Os Anjos cantam Teu nome
Ó Menino, no Natal
cantam Homens e Mulheres
para que os livres do Mal

Sobrevoam as pombinhas
e os clarins sobem aos céus
Ergo as mãos em minhas preces
elevadas para DEUS

Ó meu MENINO JESUS
guarda o meu coração
livra-me de todo o mal
de toda a tentação

Guarda pois a minha noiva
meus irmãos e os meus pais
Tens de mim tamanho amor
que nunca será demais

Anda sempre junto a nós
Dá a todos LIBERDADE
Dá ao mundo a SANTA PAZ
Dá-nos felicidade

Tiveste no NASCIMENTO
Animais p'ra te aquecer
Lembra-te dos pobrezinhos
de fome e frio a sofrer

Rezo bem fundo na alma
esta oração com fervor
Mais uma vez eu te peço
não nos falte o TEU AMOR

Nesta Noite de Alegria
Qu'entra no meu coração
Meus IRMÃOS os abençoe
e lhes dê melhor razão

Assim, Te rezo esta NOITE
DE NATAL, ó DEUS MENINO
Eu te rezo com ardor
como eu fora pequenino

Luanda ( Angola ), 1969

DESTINO ( LETRA PARA UM FADO - II )

As lágrimas são saudade
Saudade de um bem querido
Vivo, amor, na ansiedade
de em breve ir ter contigo

Foi meu desejo e dever
enfrentar tão grandes perigos
Se na batalha morrer
contra os TURRAS inimigos

Se a morte nos separar
aos dois por tão longo tempo
tu nunca deves chorar
Do dever foi cumprimento

Se os teus olhos, meu amor,
de lágrimas se encherem
pedirei ao Deus Senhor
pr'ós meus lábios as sorverem

Mas se Deus me permitir
qu'eu tenha longevidade
hei-de te lembrar a sorrir
estas TERRAS com saudade

Mamarrosa ( Angola ), 1969

SÃO TEUS OLHOS DUAS PEDRAS ( LETRA PARA UM FADO - I )

São teus olhos duas pedras
São duas pedras de um rio
Para longe ele as levou
Perguntei . . . Ninguém as viu

Os meus sonhos são esperança
'Sperança na Eternidade
Meu amor levou meus sonhos
e só me deixou saudade

Quis p'ra ti cantar à noite
- - - numa noite de luar - - -
Meu amor levou meus cantos
e só consegui chorar

Os teus lábios são papoilas
desse jardim encantado
Seu perfume em mim ficou
depois de eu os ter beijado

Eu pensei que tu sabias
que te canto com ardor
São meus versos melodias,
dedicação e Amor

Mamarrosa ( Angola ), 1968

TERRA AFRICANA

Terra africana de calor fremente
de ideias ímpias de enfeitiçar
feiticeiro algoz não inteligente
que procura no sol o seu raiar

Alvoroces terra, em teu sonho ardente
que outros tiveram aquém do mar
baloiças no capim tão docemente
e aqueces sem desdém teu triste lar

Acaso tua vida não sorria
procura a salvação no fiel Bailundo
pois em ti, a riqueza, ele antevia

Não creias naqueles que lá no fundo
te olham com pérfida heresia
e te chamam " TERRAS DO FIM DO MUNDO "

Mamarrosa ( Angola ), 1969

PALHAÇO

A noite é escura
Há pó no céu
O ar cheira a capim
Aqui
tudo é assim
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ninguém pensa como a vida é
Tudo é sonho
Tudo é pecado
. . . O capim quando arde é escuro
. . . O mundo . . . esse . . . continua depravado
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Reminiscências de criança
elevam-se
num pensamento esguio
numa tentativa de libertação
como se fora fumo
- - - esse fumo de capim queimado - - -
Só pensando se sorri na vida
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Eis-me aqui
obedecendo
Sou um palhaço

Mamarrosa ( Angola ), 1969

DESENCONTRO

Perco-me onde estou
Não sei onde
Não sei quem sou
Sou ave que vive no mundo
Triste som
de um todo, meigo, profundo
Sou canto que surge das águas
onde se perdem as mágoas
Sou olhos que o vento vê
Sou nada

Desencontrei-me finalmente

Pois sou o quê ? !

Continuo a ser do TODO
mas continuo a ser o NADA

S. Salvador ( Congo, Angola ), 1969

TEMPO DE LOUCURA


Eis-me aqui

A vida é interrogação imaginária
e o TEMPO urge
. . . . . . . . . . . . .
Vamos correr atrás do vento
enquanto houver SEU tempo
Percorro o breve enredo de um idílio
Espelho-me entre as ÁGUAS de um rio
Esqueço-me de mim
mas encontro a par de Eco
um Narciso imperfeito
. . . . . . . . . . . . .
Não me amo
Não me odeio
Só sei que vivo
Só sei que sinto
uns olhos espelharem-se onde não há vida

Mas mesmo assim ela existiu

Eis-me aqui e como ela
sou um boneco, trespassado,
de trapo e flanela . . .

Mamarrosa ( Angola ), 1969

MEIGA RECORDAÇÃO

Eu a deixei em tristes pensamentos
encostada ao corrimão da escada
observando a minha ida, magoada,
como se fosse noite por momentos

A passos ora vivos ora lentos
percorreu o patamar angustiada
na sua ténue voz entrecortada
sussurrou um adeus entre lamentos

Qual ave que se esconde ao ver passar
o caçador empunhando a azagaia
antevendo na picada o doce lar

Qual sonho que se esvai no coração
deixando o verde mar correr na praia
como se fosse um misto de ilusão

Mamarrosa ( Angola ), 1968

FOLHA

Folha
que vives ainda
bem pertinho . . . da minha porta
segues teu destino . . .
. . . . . . . . . . . . . linha que imaginaste . . . . . . . . . . . . .
Segues folha teu rumo
de mansinho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A porta se abriu
e o pé desliza
sobre a folha amarrotada
que o odeia . . . porque . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . Depois . . .

passam-se os minutos
. . . e mil de dos de conversa . . .
O pé levanta . . . e bate . . .
a poeira do caminho

Folha
perdida
ignorada
jazes agora imersa . . . pisada
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Venceste o destino
És morta
Acabaste

Mamarrosa ( Angola ), 1968

CONSELHOS AO PASSADO


Já alguma vez viste a prisão onde vais viver ?
Talvez que sim
Talvez que não
Olhos nos olhos
Amor com amor
Nota final
Cânticos de dor
de saudade ou de ódio
Infelicidade
Sinfonia incompleta
Algo falta ... Algo se quer mais
E tu, meu amigo,
que vais fazer ?
Quando queres parar ?
Aí onde estás
horas eu perdi
como se fosse mulher
a contar o que vi
a dizer coisas
a dizer algo que o vento levou
e onde o mar não entrou
nem os campos com rosmaninho
só a vida . . . a triste vida
de um homem como tu, meu amiguinho

Luanda ( Angola ), 1968

BALADA DA MORTE


Ouviram-te um dia
falando
balbuciando
certas palavras de amor
Viram-te um dia
caída
entre os rochedos da praia
chorando
cheia de pavor
Querias suster meus braços
minha cabeça
meus traços
Não podias . . .
Estavam nus
cobertos de sangue e pedras
cobertos de lamas negras
Quis viver, mas o DIABO
roubou-te quem mais querias
Deixou-te só . . .
. . . e sem luz . . .

S. Salvador ( Congo - Angola ), 1968
Publ. in " O CONCELHO DE MAFRA " nº. 821 de 31 de Agosto de 1973
Publ. in " JORNAL DA PARAÍBA "  ( Folha de Sevy Nunes ) de 8 de Março de 1974

BALADA DA SAUDADE


Saudade
Saudade
que baloiças no meu coração
Saudade
Saudade
baloiças em vão
e o meu sofrer
não te quer dizer nada
Voa para longe
minha saudade
Tenho o amor
Baloiça
Baloiça
Felicidade

Mamarrosa ( Angola ), 1968
 Publicado in " O CONCELHO DE MAFRA " nº. 820 de 31 de Julho de 1973

SONHO ( CHEGADA EM VÉSPERA DE NATAL )

Ia vendo o alvor da madrugada
aparecendo nos montes altaneiros
e chilreando as aves nos ribeiros
faziam-me esquecer a caminhada

A NOITE DE NATAL era chegada
nos campos e lugares seus sobranceiros
e dando suspiros derradeiros
cheguei, enfim, à terra desejada

Pequena aldeia, alegre burburinho
entre as crianças felizes do lugar
ao verem-me chegar tão de mansinho

cansado e buscando um novo lar
após percorrer árduo caminho
para ouvir os SINOS a tocar

Mamarrosa ( Angola ), 24 de Dezembro de 1967 ( 23H00 )

MAMARROSA


Era uma noite cheia de luar
encostado a uma pedra conselheira
antevendo ora a vala ora a trincheira
ia pensando afim de sossegar

Via bem perto a arame a tornear
uns postes, tão bem presos, de maneira
que ninguém naquela noite inteira
os poderia dali fazer saltar

Ao meu lado num posto de vigia
dormindo estavam só dois camaradas
mas de pé, um outro, triste, eu via

perscrutando os trilhos e as picadas
onde, até no quente e asfixiante dia
a Vida e Morte andam de mãos dadas

Mamarrosa ( Angola ), 31 de Dezembro de 1967

LOUCURA ( A MINHA NOIVA )


Se este nosso amor em vão passasse
o tempo a sós com esta solidão
preferia viver na escuridão
depois que tua vida me enlaçasse

e se, enfim, o amor me atormentasse
este espírito cheio de ilusão
seria possível que o meu coração
cheio de vida e sonhos se calasse

E sendo todo amor o meu querer
em ti, menina bela, eu nunca esqueço
a mágoa que seria te perder

. . . Recorda então meus ais . . . eu enriqueço
teu pensamento . . . guarda meu sofrer
e vai contendo a dor . . . Eu enlouqueço . . .

Mafra, 1966

BALADA DO AMOR E DA SAUDADE ( NADA )


Corre
Corre amor
porque eu te quero agarrar
Corre
Corre amor
que cantas de par em par
Dentro do SER envolvido
Servindo o CÉU encantado
choras lágrimas de dor
. . . Ouvem-se cantos . . .
Canta lá meu amor
Corre
Corre vida minha
porque não vales já nada
Anda sempre em correria
Anda sempre à desbravada
E dentro de velhos antros
corre a vida desgraçada
. . . Vida maliciosa . . .
Toca a guitarra trinada
Chovem vinho e palavras
Pobre vida . . .
desgostosa
. . . . . . . . . . . . . . .
Em TUDO um pouco de NADA

Mafra, 1966

A CAMÕES


Só, nobre d'alma, coração tão puro
P'lo amor que leva à eternidade
Só . . . caminhando com a vasta idade
olhando sinais de amor tão duro . . .

Mafra, 1965

À BEIRA DO LAGO ( BALADA )


Estou . . .
Num campo de rosmaninho
onde me vou saciar
de Amor, do teu carinho
lindo canto d'embalar
Procurei-me onde tu estavas
Consegui-me encontrar
Eu sonhei . . .
e tu sonhavas
Verde leito . . .
verde mar

Doces amores que embalam
Límpidas águas do lago
Regatos meigos que falam
do amor que em mim trago

Se me sinto só ... tristonho
por ti tenho de chamar
Teu semblante é risonho
e ao teu lado quero estar

As folhagens no lago verdejantes
procuram embalar meu ar sereno
onde os peixes de cores aliciantes
me acompanham num adeus . . .
. . . meu triste aceno

Lisboa, 1964

ESTUDOS II ( MATEMÁTICA )


Disseram-me

" Esta poesia é mais engraçada "

Porquê ?

Linhas
Pontos
Curvas
Funções
Raízes
Progressões
Sucessões
Derivadas
Fracções
Coordenadas

Queixumes de hora a hora

Pode-se fazer uma figa
Mas no fim . . . pois é . . .

Que infelicidade

Para poupar um bom costume
Que grande dor de barriga

Lisboa, 1966

ESTUDOS I


Nunca saberei se fui vencido pelo destino
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ouvi a minha voz
o meu som
a minha loucura
Senti-me entristecer rapidamente
Chamei por Schiller
por meus amores
Gritei à maneira de Cicero
Cantei como se fosse Virgílio
mas a minha Eneida
perdeu-se para sempre
entre os rumores do mar

Baladas entre as badaladas dos sinos de uma torre

Meditei em José Régio
. . . Queixumes que eu balbuciava
sem saber porquê . . .

Tu . . .

Só tu, Musa dos meus amores
não mais me digas
para seguir o teu CAMINHO
que nem o meu posso seguir

Formei-me em mim
Sonhei com barcos despedaçados nos rochedos
. . . e eu com eles . . .
Vi as ondas
ora meigas
ora ferozes e rugidoras

Quais leões que se enfurecem
ao chegar às grades intransponíveis das jaulas
Caía a noite
e o sol entre o oiro e o sangue
mergulhava mais além
entre o azul-avermelhado do mar

As nuvens escurecidas
desenhavam-se . . .
. . . e eu via
CAVALEIROS
MONSTROS
e
CASTELOS
Deixei-me nessa melancolia
nessa solidão inesperada

Olhei à minha volta
. . . Ninguém . . .
Fiquei só . . .
. . . adormecido
e pelo DESTINO me deixei guiar
já que a ele
me era impossível
. . . Qual barreira intransponível
que eu queria ultrapassar

Lisboa, 1966

DITOS E NÃO DITOS


Bati as asas

" Cavei " por entre os muros da consciência
Revoltei-me contra o Mundo
ignóbil, triste, enevoado,
insensato, confuso, ingrato,
incoerente, cínico, indiferente
e --- porque não ? --- tresmalhado
Qual folha seca
que flutua entre os cachos da podridão

Eis quem sou
Quem quero ser
Quem devo ser

Sou uma ave que não tem poiso
Que não tem ninho
Que luta contra os elementos da Natureza

Qual alma viva que deixará de flutuar
mais tarde ou mais cedo
no meio da penumbra

Vós que me ouvis
Que lutais
Que caís
descansai que vos ajudarei a levantar
Agora ?
Nunca ?
Em parte incerta ?

Que incerteza me desperta . . .
Vão lamento
que se junta hora a hora
dentro do meu pensamento . . .

Mafra, 1966

MAFRA E ERICEIRA


Tudo perdi e o sôfrego desgosto
me leva dia a dia, eu te não vejo
De te mirar no poente ao sol posto
no prado verde em sonhos me sobejo

E como a BEIRA MAR por mim já chama
para nela sozinho me banhar
A MOURA ENCANTADA por mim clama
para com ela de amores me saciar

Eu não sei qual delas hei-de seguir
D'uma e d'outra são os meus desejos
que se desfazem ao ver-me no provir
perdido nos seus braços, nos seus beijos

Mafra, 1965

BALADA DA ILUSÃO


Apetece-me
Apetece-me tudo
até mesmo bailar ao som do vento . . . . .
Aquece-me
Aquece-me muito
até quando não poderes, meu sofrimento. . . . .
Deixa-me
Deixa-me só
perdido entre os sonhos da amargura . . . . .
Toma-me
Toma-me nos lábios
mas não aumentes em mim minha loucura. . . . .
Leva-me
Leva-me para ti
mas não me faças chorar . . . . .
Quero
Quero viver
ao teu lado para te poder amar. . . . . .
Contigo
Só contigo entre os meigos rouxinóis
Viver lado a lado só contigo
e contigo vivermos sós, os dois . . . . .
Perdido
numa loucura estranha e permanente
num pensamento estranho ou perdido. . . . . .
Leva-me
Leva-me para bem longe
só para ti
e para ti deves levar
meu pensamento

Lisboa, 1965

COMPREENSÃO

A David Mourão Ferreira



Meu mundo de três faces
Vivo em três Mundos diferentes
Três Classes bem distintas
. . . . . . . . . . . .
Como quereis
que eu pense assim ?

Lisboa, 1965

BALADA DA DOR


Dei um passo
no alvorecer da madrugada
Senti o MUNDO e o vento
rasparem a minha face
( Curioso . . . o frio era intenso )
Procurei-te entre laivos de açucenas
. . . Não te vi . . .
Corri montes
Corri vales
para acabar com meus males
mas não t' encontrei a ti
Mafra, 1965
Publ. in " JORNAL DA PARAÍBA "  ( Folha de Sevy Nunes ) de 19 de Março de 1974

NOVA POESIA

Quando se tem o bem amado
lá longe
sozinho e descuidado
crescem as saudades ...
e o amor . . .
quebrando-se entre a espuma do mar
amargurado
sofre . . .
Aumentam as branduras do CAMINHO
Lá longe
o amor enriquece
e nova forma de vida, que enternece
um sonho tão delicado
se queda melancólica
nas vicissitudes
de uma poesia nova, triste e perdida
de saudades embebida
nas ONDAS do MAR DOURADO


Mamarrosa / Angola ),1968
Publicado in " O CONCELHO DE MAFRA " nº. 821 de 31 de Agosto de 1973

EU


À volta de mim
vejo
ouço
sinto
tenho pena e durmo
À volta de mim
a falsa amizade
põe-me taciturno
Sofro !
Mas a nudez das minhas palavras
arrasta o meu coração
Penso no que sofreria
se soubesse a verdade
e chego à conclusão
que anda à volta de mim
a sombra de um DIABO ...
À volta de mim
quebra-se a melancolia dos pinheiros
Ouvem-se os sons agudos
dos choros de crianças
que nascem por entre as trevas da amargura
e aquele amor que tive de pequeno
desaparece agora
através da solidão da vida
como as pétalas através do vento
no desfolhar da rosa branca . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
Sonhos ? ? ? . . .
correm-me pelo cérebro
mas ele vai parar
As trevas começam
e não penso mais porque não posso
Arrepia-se-me a carne
e os meus olhos esbugalhados pela morte
tornam-se baços e sem vida
A carne desfaz-se minuto a minuto
. . . Começo a desaparecer . . .
e um odor horripilante
atravessa as narinas de um desconhecido
. . . desse desconhecido
que não sabendo onde cair morto
anda à volta de mim
. . . . . . . . . . . . .
Somente tenho a minha alma
mas solta-se com um impulso de dor
. . . e o meu EU
corrompe-se com a falta de matéria
. . . . . . . . . . . . .
Já não sou
Já não existo
Mas um outro ALGUÉM
que tem o nome de DEUS
anda à volta de mim ...

Caldas da Rainha, 1965

PRESENÇA


Ouço
As águas quebrarem-se nos rochedos da passagem
enquanto eu sonho ... Presente paisagem
Que sonho, meu Deus, eu tenho
que vem quebrar a melancolia
deste meu pensamento
. . . E sem saber
o que seria de mim
ao ver passar no regato
a água em desacato ? ...
. . . Agora . . .
vejo alguém que me acena
na outra margem amena
e que muito me adora
É o TUDO para mim
o NADA junto ao FIM
É o MUNDO e o AGORA .


1965
Publ. in " O CONCELHO DE MAFRA " nº. 820 de 31 de Julho de 1973
Publ. in " JORNAL DA PARAÍBA " em 2 de Março de 1974 ( Folha de Sevy Nunes )

À BEIRA MAR ESTOU ...

À beira-mar estou
pensando
não sei o quê
Chorando
Talvez lembrado do meu passado
na mente da gente ao abandono
E eu ?
Como eles me sinto só
... Ultrapassado ...
Minha querida
estás tão sõ
como eu
... À beira mar estou ...

Lisboa, 1966

ALGUÉM

Nasce, vive, morre,
Chora, canta e sente
viver
amar quem sofre
Acreditar
em quem não mente
Tu
és ALGUÉM

Lisboa, 1966
Publicado no " Jornal da Paraíba " ( Folha de Sevi Nunes ) em 1972