À volta de mim
vejo
ouço
sinto
tenho pena e durmo
À volta de mim
a falsa amizade
põe-me taciturno
Sofro !
Mas a nudez das minhas palavras
arrasta o meu coração
Penso no que sofreria
se soubesse a verdade
e chego à conclusão
que anda à volta de mim
a sombra de um DIABO ...
À volta de mim
quebra-se a melancolia dos pinheiros
Ouvem-se os sons agudos
dos choros de crianças
que nascem por entre as trevas da amargura
e aquele amor que tive de pequeno
desaparece agora
através da solidão da vida
como as pétalas através do vento
no desfolhar da rosa branca . . .
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .
Sonhos ? ? ? . . .
correm-me pelo cérebro
mas ele vai parar
As trevas começam
e não penso mais porque não posso
Arrepia-se-me a carne
e os meus olhos esbugalhados pela morte
tornam-se baços e sem vida
A carne desfaz-se minuto a minuto
. . . Começo a desaparecer . . .
e um odor horripilante
atravessa as narinas de um desconhecido
. . . desse desconhecido
que não sabendo onde cair morto
anda à volta de mim
. . . . . . . . . . . . .
Somente tenho a minha alma
mas solta-se com um impulso de dor
. . . e o meu EU
corrompe-se com a falta de matéria
. . . . . . . . . . . . .
Já não sou
Já não existo
Mas um outro ALGUÉM
que tem o nome de DEUS
anda à volta de mim ...Caldas da Rainha, 1965
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