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Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

EXPOSIÇÕES DE PINTURA


( UMA JUSTIFICAÇÃO PLAUSÍVEL )

Uma lata de cerveja bebida sofregamente; uns cubos de gelo meio derretidos no fundo translúcido de um copo, onde a coloração de um " Scotch " de cinco anos não deixava ao observador experimentado a mínima dúvida sobre o seu conteúdo; duas cadeiras vazias colocadas sem sentido estético, porque empurradas inconscientemente; uma mesa onde, sobre uma cobertura desalinhada e um pouco amarfanhada pelo movimento inconsciente de braços, imóveis pratinhos se encontravam repletos de pequenas migalhas e pão e de queijo; no ar ainda os ultimes acordes da " Missa Crioula ", de Ramirez, e finalmente, uma luz mortiça formavam o ambiente natural e propicio a uma reunião havida poucos minutos antes entre mim e um pintor e grande amigo de velha data, António Six .
A visita sempre agradável de um amigo --- e em especial sendo ele um pintor --- a minha casa é para mim fonte de eterna discussão cultural sobre traços e sombreados, cores e tonalidades, perspectivas e luminosidades, ao fim e ao cabo fruto da própria vida e do modo como ela se depara perante os nossos olhos, ávidos de experiências novas e gáudias sensações .
Dessa acalorada discussão ficou no ar um rio de ideias, qual delas a mais apetecida de pôr em prática por não ser produto de um qualquer incongruente Thomas Moore .
Uma dessas ideias não utópicas foi a possível realização de uma mostra de pintura sobre a região saloia, portanto, com um objectivo perfeitamente definido .
Achei deveras curiosa a justificação por ele encontrada para levar à prática tal ideia, não colocando em causa o objectivo em si, mas as razões que sempre levam o artista a expor as suas obras e concordei inteiramente com ela, senão, vejamos :
Para se pintar torna-se evidente a necessidade de uma forte motivação, que leve um artista ao auge da sua sensibilidade, de forma a poder transmitir à tela o seu verdadeiro sentido de vida e de capacidade criadora, pois viver é manter em alerta toda a capacidade criadora de qualquer Ser Vivo pensante .
Só, não chega, é certo. Todavia, é para mim e para aquele amigo o principio vital de um artista. Ninguém é artista sozinho, pois é necessária a compreensão e reconhecimento do valor da sua obra por outrem .
Quantos não são os pintores, que desenham ou pintam sobre dezenas de telas, folhas de papel, etc., gastando horas a fio e rios de tinta e carvão, para depois rasgarem ou destruírem tudo o que lhes pareceu belo, inicialmente, e um pouco mais tarde fonte de desilusão e constrangimento ? Porquê ? Esteve aí em causa a sua realização pessoal, porque incompreendidos, primeiro por si próprios, em busca do seu " Graal ", depois pelos outros, porque néscios do assunto ou emplumadas aves canoras, nunca souberam dizer a palavra certa na hora da verdade, ou seja, no momento exacto, levando os artistas ao desespero .
O meu visitante passou por essa fase e em minha casa repousam esperando a luz do dia várias telas, que ele queria devolver às origens, ou antes, ao indestrutível pó ( ab pulve venistis et ad pulvem reverteris --- do pó vieste e ao pó voltarás ). Fui sensibilizado por elas, quando as pintou e m'as mostrou e por esse motivo as protegi, para lhas devolver quando julgar conveniente e no momento ideal, pois sempre tive receio que, devido ao seu natural estado de espírito em determinadas alturas, as destruísse irreparavelmente .
Fui sensibilizado pela arte de pintar e desenhar há já muitos anos, pese embora o facto de desconhecer os métodos de o fazer, por falta de firmeza de traço ou de paciência. Também os outros o poderão ser e devê-lo-ão. Para tanto, torna-se necessário dar a conhecer o produto do trabalho de pessoas como o Six, para a partir desse conhecimento lhes ser atribuído o título de artista. Com eles se torna evidente a necessidade de convívio, pois essa evidência é o fruto da responsabilidade do pintor como Ser Humano que é, e aos olhos dos observadores a sua afirmação .
Nenhum " critico " tem o direito de dizer de sua justiça sobre uma obra sem primeiro dialogar com o seu autor ou estudar profundamente as raízes da sua personalidade e temperamento, quando em vida o não seja possível. A critica levada a efeito em circunstâncias que não sejam estas levam sempre o seu autor a falsear a única verdade possível, e quantas vezes não acontece esta situação propositadamente levando aos píncaros autênticos energúmenos e pseudo-artistas menos que medíocres ou arrastando para a lama fedorenta altas craveiras criadoras, levando-as mesmo algumas vezes a actos tresloucados, sem que se vislumbre levemente um mínimo de responsabilidade por parte desses falsos críticos, porque desonestos para consigo próprios ainda mais do que para os autores das obras, não falando já nos seus nojentos gatafunhos, que levam os menos preparados psicologicamente a seguirem os seus desatinados conselhos .
Convém anotar que no seio da sociedade há e haverá sempre " CRITICOS " e " críticos ". Há que os saber distinguir, separando tão correctamente quanto possível o trigo do joio .
Para que não haja erros desta natureza, necessário se torna fazer mostras de obras e conviver com os seus autores. De tudo isto e após a sua realização o que fica é cultura. É aí que se insere toda a força anímica criadora de um povo, reconhecendo nos seus artistas o vinculo que os une à terra que os viu nascer e de onde dimana o colorido da vida humana, que os irá perpetuar, enquanto a obra existir ou dela houver conhecimento da existência, mesmo que o seu autor desapareça no espaço e no tempo. E mesmo que a obra desapareça por qualquer motivo alheio à vontade do seu autor, perpetuar-se-á o conhecimento de ela ter existido, através de uma critica conceituadamente correcta .
Convido-os, pois, a acompanharem-me em visitas que possamos fazer a mostras de pintura, em especial de artistas portugueses, e o prazer que nos fique seja o motivo suficiente para assistirmos a outras realizações idênticas desses artistas, aumentando se possível o seu número de modo a que, com a nossa presença cada vez maior e mais activa, os artistas se deixem de sentir menosprezados ou até mesmo ludibriados .
Bem hajam todas as organizações, que levam à prática a preparação de exposições e aos pintores e demais colaboradores, que as tornam viáveis pela apresentação dos seus trabalhos .
Os criticos que vão à fava ...

Lisboa, 1989

( Texto apresentado com um convite numa exposição de pintura levada a efeito entre outros artistas pelos pintores Bual e António Six, que escolheram este entre cerca de 200 )

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