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Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O NATAL DA SENHORA IDOSA


 
Existe uma certa dificuldade no ser humano, quando pretende expor as suas opiniões com a máxima clareza. Quanto mais claras se tornam para o cidadão comum as suas opiniões, mais difíceis se tornam quando expressas em termos de cristalinidade .
Por vezes, determinadas facilidades linguísticas servem a capacidade de intervenção humana levando, porém, na maioria dos casos o cidadão a uma presença ineficaz no seio da sociedade, acabando por não entender exactamente nem o que diz nem o que faz, embora escreva ou fale muito bem, atropelando os seus sentimentos e o seu próprio pensamento. Como excepção a esta regra lá aparecem de vez em quando elementos capazes de uma loquaz intervenção, agradando a quantos o ouvem, conseguindo transmitir exactamente a mensagem que gostariam de ver transmitida .
Nem sempre são os loquazmente mais capacitados, que levam aos restantes cidadãos a noção correcta da vida e das suas razões, mas sim aqueles cuja sensibilidade é mais intensa e, por isso mesmo, mais capazes de transmitir aos outros o que lhes vai no coração, como se o seu espírito servisse de elo de ligação, mostrando o que verdadeiramente une uns espíritos aos outros, tornando-se essa união a base fundamental da sua evolução interior .
Essa sensibilidade é característica natural do Ser Humano, todavia existente em graus diferentes indivíduo a indivíduo e para demonstrar a sua existência nada melhor que um pequeno conto elaborado a partir de dados reais vividos por uma pessoa amiga .
Era uma vez uma menina, que tinha a legitima esperança de criar um mundo melhor em que todos os Seres Humanos pudessem viver em paz e serenidade, o que deveria constituir, segundo a sua opinião, a base fundamental da felicidade humana .
Nas suas horas vagas passeava-se entre Lares de Idosos e Centros de Reclusão e de desgostosos da vida, porque lhe dava prazer levar um pouco de conforto ao seu semelhante, fazendo-o como parte integrante do seu projecto de Vida .
Num desses passeios --- se tal se pode chamar assim --- visitou um lar de idosos, no qual se encontravam entre muitas senhoras uma de vetusta idade, que chamou a sua atenção pelo seu ar tanto meigo como absorvido, parecendo demonstrar uma certa alienação do meio em que estava inserida .
Chegada junto da senhora, verificou que ela levantou a sua cabecinha pendente e clamou :
Ana ! Ana ! Minha netinha … Há quanto tempo não te via. Como estás crescida, minha querida … Minha querida netinha ,,, Estás cada vez mais linda, meu amor … Que alegria voltar a ver-te …
De surpresa em surpresa a menina ficou pensativa perante esta situação sem conseguir dizer fosse o que fosse, pois fora a primeira vez que vira a senhora .
E a senhora voltou a clamar :
… Ana ! Ana ! … Minha querida … Foi tão bom teres vindo visitar-me … minha netinha … Como me sinto feliz … Nem imaginas a alegria que me deste em vir visitar-me … minha querida Ana …
A menina, uma vez mais, pensou … pensou … e teve uma saída airosa, chamando à senhora velhinha : “ Avozinha ! “, entrelaçando-lhe as suas idosas e enrugadas mãos com as suas .
Nos olhos da senhora vislumbrou uma alegria sem fim acompanhada de uma pequena e mal disfarçada lágrima .
Talvez inicialmente a menina não tivesse pensado na sua própria reacção, mas a pouco e pouco sentiu que o seu espírito enviara uma mensagem à senhora em resposta ao pedido de socorro, que aquela lhe fizera .
A menina sentiu que não fora só ela a dar alguma coisa à senhora, mas fora a senhora quem primeiro lhe deu o que de mais precioso tinha, talvez a melhor prenda que se pode dar a
alguém, o testemunho insofismável da vida, a consanguinidade .
Depois, já restabelecida, a menina sentiu-se forte e alegre por ter chamado avozinha à senhora .
Sentiu, em boa verdade, que o seu espírito tinha finalmente definido o que é o Natal em cada um de nós, a doação completa sem qualquer espera de retribuição .
E a menina e a senhora idosa sorriam ao mesmo tempo contemplando-se sem reservas .
De pensamento em pensamento, a menina compreendeu também pela primeira vez, que o contrário do nosso Natal espiritual é o Apocalipse, que surgirá um dia em cada um de nós, no sentido da separação do trigo e do joio, que determina o início da ascensão a uma esfera superior, ficando para trás todos os espíritos, que nunca sentiram o sinal espiritual da evolução, continuando na ausência da Luz. Basta um pequeno nada para se alcançar a plenitude .

Lisboa, 1995

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