SEJAM BEM VINDOS A ESTE BLOG

Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O CAVALINHO BRANCO ( Conto para crianças )

Querem ouvir uma história ? Querem ? Então, estejam todos caladinhos e prestem muita atenção ao que vos vou contar .
Esta história começa como tantas outras :
“ … Era uma vez … “
Era uma vez um cavalinho branco, muito branquinho, que se tinha perdido do resto da manada, que pastava num prado verde, muito verdinho, cheio de papoilas vermelhas e trevos muito amarelinhos, que pululavam por entre as ervinhas frescas numa manhã de Primavera, enquanto brincava descuidadamente saltitando por aqui e por ali, fazendo as suas traquinices sem se aperceber que perigos corria .
Como muitos de vós o cavalinho, com o disse, era muito traquina e, por isso, numa das suas brincadeiras perdeu-se dos pais para sua grande aflição e deles, que muito amiudadamente o tinham avisado para não ir brincar para muito longe, porque com toda a certeza se iria perder e não conseguiria sozinho encontrar o caminho de regresso .
Ao procurar o caminho, que tinha levado nas suas traquinices, ficou completamente desorientado por o não encontrar, metendo-se cada vez mais pelo interior de uma floresta cheia de pinheiros, eucaliptos e muitos, muitos arbustos verdejantes .
Por mais que o cavalinho branco tentasse, não conseguia sair dali e relinchava, relinchava de tal maneira, que metia dó aos habitantes daquela floresta, que era muito cerrada e muito … muito grande .
Cheios de pena por verem o cavalinho branco tão aflito, os habitantes da floresta, que eram muitos e variados, resolveram juntar-se numa harmoniosa clareira e conferenciar sobre o assunto, decidindo então ajudar o cavalinho branco a sair dali, mas não sabiam como o fazer, pois com frequência alguns caçadores andavam na orla da floresta a caçar e os habitantes tinham muito medo de que os matassem, se os
caçadores os vissem. Assim, raramente se aventuravam a sair da floresta, pois quando algum dos animais saia, logo era morto pelos caçadores para grande aflição de todos os restantes, antevendo nesse facto o seu destino próximo .
Entretanto, a reunião lá foi prosseguindo sem que os habitantes da floresta chegassem a qualquer conclusão .
Foi então que um muito pequeno mas decidido Texugo se aventurou dizendo : “ Bem, meus amigos. Já aqui estamos a falar há muito tempo e ainda nada se decidiu. Enquanto fala-mos, o cavalinho branco quase que morre de medo, de fome e de sede. É preciso fazer alguma coisa rapidamente…
De seguida, perguntou um passarinho : “ Mas … O que queres tu que se faça ? Se os caçadores nos vêem, começam logo a atirar tiros e matam-nos como sempre fazem quando nos vêem e nada podemos fazer para nos defendermos … “
É isso mesmo … É isso mesmo … “, disseram todos os outros muito preocupados .
Parecendo não ter ouvido o que disse o passarinho nem os outros membros da Assembleia, o Texugo levantou o tom da sua voz e respondeu : “ Já sei. Tenho uma ideia. Os caçadores não nos vão poder fazer mal, porque não irão ter tempo para isso … “
Uma cobrita, que escutava com muita atenção as palavras do Texugo, rastejou vagarosamente até junto dele e perguntou-lhe : “ Não vão ter tempo ? Como é isso ? Conta lá … Só espero que seja boa a tua ideia, pois não gostava nada de saber que a minha pele haveria de servir de forro de sapatos ou de malas de senhora … “
E disse o passarinho : “ Pois … É verdade … a Dona Cobrinha tem toda a razão. Eu também não gostava nada de saber que acabaria frito numa frigideira, pois a minha vidinha em liberdade é o que mais prezo neste mundo em que vivemos … Mas, como é que vamos ajudar o cavalinho branco a sair daqui, se nem sequer podemos espreitar para fora da floresta de forma a podermos indicar-lhe o caminho de regresso, porque os caçadores logo acabam com as nossas vidas ? … “
… Ora … Ora … As árvores que são nossas amigas vão ajudar-nos também … “ respondeu o Texugo alegremente .
Ficaram todos de boca aberta perante aquela frase do alegre Texugo .
Foi então que um pinheirinho resolveu falar, dizendo : “ Sim … Senhor Texugo … Estamos prontas a ajudar, mas nós não nos podemos mover do sítio onde nascemos. Como será possível da nossa parte ajudar o cavalinho branco a sair da floresta sem nos podermos movimentar ? … “
É muito fácil … “ respondeu o Texugo, continuando “ … Vão ver que não será assim tão difícil ajudar o cavalinho branco a encontrar o caminho de regresso ao prado onde está a manada. Os caçadores não caçam eucaliptos nem pinheiros para comer ou para lhes tirar a pele e as árvores não morrem assim tão facilmente com os tiros das espingardas dos caçadores, se eles dispararem, embora as possam deixar muito combalidas …
Enquanto decorria a reunião, o cavalinho branco relinchava a bom relinchar, chorando … chorando muito e dando muitos pinotes, dizendo para consigo : “ Nunca mais volto a fugir dos meus papás ... Não sei onde estou nem para onde poderei ir e a noite está a aproximar-se … Não tenho que comer nem sei onde arranjar as palhinhas para fazer a minha cama. Onde estarão os meus papás ? ... Onde é que eles estarão …
E relinchava, relinchava muito dando cada vez com mais intensidade pequenos pinotes provocados pelo medo, que ia aumentando em si .
Entretanto, o Texugo disse : “ Não tenhas medo cavalinho. Vamos ajudar-te a sair daqui e a encontrar a tua família … Não estejas preocupado. … Acalma-te … Sossega que vamos ajudar-te … “ e voltando-se para a Assembleia, continuou dizendo : “ … Ora vamos lá ver. Não são só os animais que têm medo. Os homens também o têm, por mais fortes que pareçam. É preciso meter-lhes medo, dando-lhes a entender que algo de estranho se esteja a passar à sua volta … “
Algo de estranho se está a passar ? “ perguntou um pequeno esquilo de cauda farfalhuda, que não tinha ouvido nada da conversa e que acabara de saltar de um ramo de uma árvore para o chão .
Não está, mas vai estar … “, respondeu-lhe o Texugo .
Como assim ? … “, perguntou de novo o esquilito, a quem o Texugo respondeu, virando-se ao mesmo tempo para a assistência, que atentamente o ouvia : “ Escutem com atenção … “, disse o Texugo calmamente, “ … pois todos irão ter uma tarefa para cumprir, se queremos ajudar o cavalinho branco …
… Sim … Sim … “, gritaram todos ao mesmo tempo, calando-se de seguida, esperando que o Texugo expusesse a sua ideia .
Ora vamos lá ver se compreendem o que quero dizer. O que poderá porventura meter mais medo ao homem … ?, perguntou o Texugo à Assembleia .
Uns responderam que era o fogo, outros a água, outros o vento e ainda outros, talvez porque eram mais velhos e por isso com maior experiência da vida, responderam que era o desconhecido .
Isso mesmo. Têm todos razão ! “, declarou entusiasmadíssimo o Texugo .
Temos todos razão ? Como é isso possível … ? “, perguntou a Dona Cobrinha, voltando o pequeno Texugo a apresentar à Assembleia as suas razões : “ Ora vejamos. Todos os homens sem excepção têm medo de se afogar, de morrer queimados, de ouvir o zumbido do vento raspar as folhas das árvores e de tudo o que não conseguem explicar através da razão, não é verdade ? …
Assim é ! “, disse o coelhinho cinzento, enquanto os outros faziam sinal com as suas cabeças de que estavam de acordo com o que o Texugo ia dizendo .
Se é assim, então vamos usar os seus próprios medos como arma para nos defendermos e ao mesmo tempo ajudar o cavalinho branco a sair da floresta e encontrar os seus pais e o resto da manada, sem que nenhum mal lhe aconteça … “, voltou a dizer o Texugo .
E o que é que devemos fazer então ? … “, perguntou um belo eucalipto muito perfumado, respondendo-lhe de seguida o Texugo : “ Tomem muita atenção ao que vos vou dizer, pois terão de fazer exactamente tudo o que eu vos disser, para que tudo corra como desejamos. Vocês, as árvores, vão usar o vento, que passa por vós, zumbindo de repente e ao meu sinal, aumentando ou diminuindo a pouco e pouco a sua intensidade, fazendo parecer a aproximação de temporal, já que podemos aproveitar a ocasião de estar o céu todo toldado por muitas nuvens cinzentas. Os castores vão rebentar as represas que construíram, deixando que a água se espalhe e inunde as partes baixas da floresta e a sua orla, enquanto os pássaros maiores vão buscar pequenos paus a arder às lareiras das casas dos caçadores, que andam distraídos a caçar, acompanhados dos seus cães, pegando em seguida fogo aos seus celeiros, fazendo com que eles se entretenham a apagar os fogos com a água que os castores fizeram transbordar, deixando-nos em paz. Enquanto estão entretidos com isso, não se preocupam connosco. Com medo da tempestade muitos caçadores fugirão para se recolher rapidamente nas suas casas, enquanto outros fugirão também, mas pelo simples facto de terem medo dos zumbidos do vento ao raspar as folhas das árvores, por não encontrarem explicação para esses zumbidos e pensarem que são as vozes de almas de outro mundo, que os perseguem. A Dona Cobrinha com algumas das suas amigas irão meter medo aos cães dos caçadores, mas tomem muita atenção, não se deixem ver pelos caçadores; enquanto eu, o coelhinho cinzento, o senhor Esquilo e os passarinhos mais pequenos iremos ensinar o caminho de regresso ao pasto ao cavalinho branco …
Ouvidas estas palavras todos bateram muitas palmas e elegeram ali mesmo o pequeno Texugo como chefe do grupo e coordenador do plano .
Divididos em pequenas equipas, segundo as instruções do Texugo, todos os animais da floresta e as árvores se prepararam para a acção .
Com um forte assobio o Texugo deu ordem para se pôr em marcha o Plano traçado .
As folhas das árvores começaram a zumbir e a sua intensidade ia aumentando ou diminuindo à medida em que o tempo ia passando .
Os pássaros mais pequenos foram-se chegando cautelosamente à orla da floresta a ver se havia caçadores por perto do caminho, que levaria o cavalinho branco a reunir-se à manada, avisando amiudadamente os que vinham mais atrás sobre a situação .
Os pássaros maiores conseguiram entrar em casa dos caçadores, que sempre deixavam as portas escancaradas quando iam caçar, e pegando em pequenos tições ardentes com as suas garras, deixavam-nos cair sobre os celeiros, pegando-lhes fogo .
A Dona Cobrinha, acompanhada por mais algumas das suas amigas, rastejou a bom rastejar e começaram logo a afugentar os cães dos caçadores, que ladravam cheios de medo, ao mesmo tempo que os seus donos não vendo nada de especial que fosse razão suficiente e entrados em pânico fugiam a sete pés, julgando tratar-se de almas de outro mundo que afugentavam os cães e logo viriam atrás deles também. Outros caçadores havia que, não estando a apagar fogos, fugiam também com medo de que viesse uma tempestade ou aterrorizados pelos zumbidos do vento que ouviam sem ter explicação ou com o aumento das águas, que subiam rapidamente à sua volta, cuja origem desconheciam .
Mantidas todas as cautelas e chegados à orla da floresta o cavalinho branco e os seus amigos viram ao longe toda a manada, que relinchava muito inquieta pelo seu desaparecimento. É claro que os pais do cavalinho branco, logo que o viram a salvo, lhe deram uma grande reprimenda por se ter afastado sem sua autorização e só esperavam que isso lhe servisse de lição para o futuro .
Reconhecido pelo que os seus amigos fizeram por ele muito agradeceu o cavalinho branco relinchando alegremente e dando agora pinotes de contente que estava, conforme se ia aproximando da manada, prometendo-lhes que nunca mais sairia de junto de seus pais. Jurou mesmo pelas suas crinas muito luzidias, que tal não voltaria a acontecer para o resto da sua vida e … cumpriu a promessa, tanto quanto sei …
Hoje, casado com uma potrazinha malhada castanha e branca muito esbelta e já com um filhote pequenino, também muito branquinho como ele, o cavalinho branco vai de vez em quando à orla da floresta conversar com os seus salvadores, a quem ficou para sempre muito agradecido e reconhecido pelo bem que lhe fizeram, aproveitando para mostrar ao filho as razões que tem, quando o avisa para não se ausentar de junto da manada, esperando que a sua aventura sirva de lição a todos os cavalinhos mais pequenos, que fazem travessuras tal como ele as fazia quando tinha a sua idade …

Lisboa, 1995

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