SEJAM BEM VINDOS A ESTE BLOG

Nota Prévia :

Este Blog destina-se exclusivamente à divulgação de trabalhos escritos por mim para meu prazer e daqueles que eventualmente estivessem interessados na sua leitura.

Felizmente, foram muitos os que se me dirigiram a pedir que divulgasse alguns dos meus trabalhos, especialmente os que mais me marcaram ao longo da minha vida, daí ter feito uma escolha selectiva de entre todos eles, muitos ficando de fora, naturalmente .

Foi por esse motivo que surgiu este Blog .

Muitos desses trabalhos já haviam sido publicados em periódicos e revistas da especialidade e não só, muitos deles além fronteiras ( EUA e BRASIL ), e alguns chegaram mesmo a ser galardoados em Concursos de Contos e Poesias e diversos Jogos Florais .

À medida em que forem inseridos neste Blog, tentarei informar quais os já anteriormente publicados, onde e quando e se tiverem sido galardoados, quais os prémios que lhes foram atribuidos e quais as Organizações envolvidas .

Espero que a memória não me falhe e os meus apontamentos não estejam incompletos.

Ericeira, 20 de Janeiro de 2011

Carlos Jorge Ivo da Silva

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MONOLOGO DOS COMPOSTOS ou

Carta Aberta ao

PROF. DR.. Urbano Tavares Rodrigues

Meu muito querido Professor

Hoje, 11 de Março de 2008, já os tempos passaram e fizeram história de quando fui seu aluno no sexto ano de letras alínea b – Germânicas ( à época compreendia também Literatura Portuguesa ) no Colégio Moderno nos finais dos anos 60 .
Que lembranças … Alegre nostalgia que não desaparece nunca com o virar das páginas da vida, porque se tornou perene .
O tempo passa e dia após dia pensamos escrever algo que nos faça recordar dos princípios éticos e morais, que nos abalaram a mocidade e enrijaram os nossos ainda titubeantes pensamentos --- naquele tempo de “ menino e moço” ( “ … me levaram de casa de meus pais para longes terras … “- BR ) ainda um pouco ao sabor de correntes efémeras e ideologias estagnadas que nos empobreciam e, de certa forma, corrompiam os nossos jovens espíritos --- fortalecendo profundamente a nossa formação cultural, embora sujeitos na vida real a toda uma influência publicitária de um Estado Novo, que já era velho quando nasceu, e que havia de ser mudada, custasse o que custasse .
A si, meu querido Professor, devo em especial essa definitiva mudança, que me arquitectou e me ajuizou o meu Ser. Precisava dos olhos abertos --- e quantos não precisavam ? ---, pois seria bem difícil para mim consegui-lo sem a sua gentileza, os seus conceitos inovadores e a sua força anímica, que a todos nos entusiasmava com as suas palestras sábias e exultantes e com os seus conselhos de mestre e instrutor .
A Educação é dada pelos nossos pais, a Instrução pelos nossos Professores, por isso continuo sem entender ainda hoje porque se dá o nome de Ministério de Educação ao que deveria em boa verdade ser Ministério da Instrução .
A Cultura deveria ser o resultado prático da simbiose criada entre a Educação e a Instrução, mas … mais uma vez … o Ministério ( da Cultura ) não corresponde na sua ideia fundamental à verdade, pois todo o seu conteúdo me sabe a bafio e não a algo que esteja vivo dentro de nós. Não espelha de nenhuma forma no nosso Consciente Absoluto as realidades exteriores oriundas dos nossos antepassados e, por isso, não se reflecte no nosso “ Eu “ social, que designam pomposa e grosseiramente por “ Pátria “, hoje sem existência de valores objectivos e orientadores, que os nossos jovens possam seguir .
Que tristeza me fazia o tocar da campainha, que nos indicava o final das aulas. Um perder de tempo que o tempo não apaga. Como eu gostaria de continuar a ouvi-lo saboreando cada frase, cada palavra, cada ideia … e esse tempo passou, deixando profundas marcas na minha formação académica e humana, que por sua causa tão positivas têm sido e me servido ao longo da minha vida .
Nasci em Mafra em 6 de Junho de 1945, à época uma pacata e pequena vila, que cresceu à “ Sombra do Convento “ como diria o meu antigo professor no Externato de Mafra, Guilherme José Ferreira de Assunção .
Mafra pouco mais era naquele tempo do que uma aldeia onde todos se conheciam e inter ajudavam no dia a dia, sem se preocupar com a vida privada de cada um --- caso raríssimo e excepção comprovada em relação à maioria das aldeias repletas de “ cuscas “ por todo o lado --- .
De “ estudos “ poucos estabelecimentos havia --- a Escola D. Pedro V, que leccionava até à quarta classe, e um Externato, que leccionava até ao 5º. ano dos liceus uma grande fatia dos jovens que habitavam as proximidades da vila ( incluindo os da vila da Ericeira ), e nada mais, porque um povo culto não era coisa que servisse os desígnios do Estado, que já começava a apresentar sinais de decrepitude e insanidade emocional e regimental ---, mas era uma terra de gente culta, na sua maioria autodidacta, que tinha por principio pertencer a círculos culturais que nela se iam criando ao longo de gerações, embora efémeros e com grande dose de espontaneidade, é certo. Não deixavam, todavia, de valorizar o interesse social pelo conhecimento, que sempre defendiam e alimentavam .
Quando terminei o 5º. Ano dos liceus, meus pais, remediados de posses, enviaram-me com grandes sacrifícios financeiros ( porque éramos 3 rapazes, sendo eu o mais novo, e todos a estudar ao mesmo tempo ) para as Caldas da Rainha, onde fiz o meu 6º. Ano no Externato Ramalho Ortigão ( apesar de ser do Patriarcado e ter por esse motivo conexões e dependências ao sistema politico vigente, era leccionado por professores, que hoje considero serem ou terem sido --- porque alguns infelizmente já faleceram --- Homens e Mulheres Livres, que não se sujeitavam às determinações estaduais nem se ajustavam aos conceitos tradicionais, como bastas vezes verifiquei e hoje, mais maduro, confirmo a minha análise feita naquela época ---. Por exemplo, foi aí que tive pela primeira vez uma aula de Sexualidade, leccionada por um médico, com a qualidade que hoje desejaria tivesse sido prestada à minha filha durante a sua infância escolar, o que na altura foi profundamente contestado pela Direcção do Patriarcado, mas que só ficou pela contestação como vim a saber mais tarde .
Um dos meus irmãos mais velhos estava, entretanto, a estudar em Oeiras ( tendo seguido para a Força Aérea, chegando a Coronel Piloto Aviador, sendo hoje um dos Assessores na Administração da ANA aeroportos ) e o outro, o mais velho entre nós os três, a expensas parciais de um Tio avô, estava interno no Colégio Valssassina, em Lisboa, o qual após ter terminado o curso liceal seguiu Direito, sendo hoje Advogado em Mafra .
Após os meus estudos liceais, segui o Curso de Administração Hoteleira, na Escola Hoteleira Alexandre de Almeida, também designada por Escola Hoteleira de Lisboa, que se situava à época na Avenida António Augusto de Aguiar, a partir do qual cheguei a ser Sub Director do Hotel Turismo da Ericeira para a Área de Clientes com a idade de 20 anos, situação que deixei para ir cumprir o serviço militar .
Depois do serviço militar cumprido ( o que me levou a participar na Guerra de Angola durante dois anos ) e por razões diversas, após uma estadia de dois anos numa Agência de Viagens como Guia Correio, o gosto pelas viagens e a obtenção de novos conhecimentos levaram-me a entrar para a TAP Air Portugal, onde permaneci por uns longos 34 anos, tendo passado à pré reforma em Outubro de 2004 como Supervisor de Carga e Correio, não sem antes ter sido durante alguns anos Supervisor na Área de Passageiros ( Check in ) desta Companhia Aérea, tendo passado à reforma definitiva em 1 de Abril de 2007. A minha consciência sindical e política alicerçada também nos meus contactos sociais fez-me passar durante algum tempo por Delegado Sindical e posteriormente pela Comissão de Trabalhadores da TAP em complemento à minha actividade profissional, das quais me afastei por não haver correspondência entre os meus filantrópicos desígnios ( e só ) e os permanentes jogos de poder que então aí se verificavam e com os quais de forma alguma estava de acordo. Ficaram as experiências vividas e isso já foi bom para poder aquilatar e entender melhor o mundo que me rodeia .
Mas, perdoe-me estas maçadoras notas intervalares, que me permitiram situar-me através deste preâmbulo, e entremos no assunto que gostaria de referir .
Deixe que voltemos exactamente às nossas vilas e aldeias, onde pululam uns seres, que denominamos “ cuscas “. As cidades são sempre o reflexo das povoações mais pequenas. Umas criam-nos … as outras alimentam-nos …
É exactamente acerca deste tema, que gostaria de deixar algumas notas, que julgo serem pertinentes por serem fruto das minhas observações pessoais perante a sociedade que me rodeia .
Às pessoas que vivem nas aldeias e que têm um procedimento metediço na vida dos outros chamo-lhes “ cuscas “, mas nunca vi “ cuscas “ que tenham nascido nas cidades a não ser aquelas que sempre viveram em pequenos bairros-aldeias ( os “ pátios “ ) e que sempre aí existem, nada tendo que fazer senão passar a vida ociosamente à janela a ver passar o que não vêem, pois nunca vêem nada do que observam por não saberem ver .
A sua vida resume-se nos seus gatinhos ou canídeos e na bucha de pão que comem acompanhada de uma chicara de café ou umas rodelas de carapau frito com arroz, que sobejou do dia anterior, antes de se pespegarem à janela entre vidros no sombreado dos amarfanhados cortinados à espreita … sempre à espreita … esperando que o dinheiro que têm nos bancos lhes renda o suficiente para poderem dizer que são “ muito ricos “ …
Muito piores do que as “ cuscas “ das aldeias são as pessoas que vêm para a cidade e se comportam nessa mesma forma. Para além de serem umas “ cuscas “ mais refinadas, por terem deixado as janelas das suas casas e se pespegarem agora à mesa dos Cafés, especialmente junto às montras onde passam a vida de costureiros a cortar nas casacas dos outros, chamo-lhes “ os desenraizados “, pela sua incapacidade de adaptação à vida que deveriam viver nos moldes das grandes metrópoles, convencidas de que agora são alguém porque vivem na cidade e que são ricas, por esse mesmo motivo. Quando já o não são na sua origem, estas transformam-se vulgarmente em pessoas cheias de doenças do foro psíquico --- esquizofrénicos na sua maioria ---. Porquê ? … Vá lá entendermos as causas … já que os efeitos os conhecemos de sobejo …
Fazem-me lembrar diversos tipos de emigrantes, que quando regressam ao lugar de nascimento trazem carros espampanantes só para mostrar à família e conhecidos com quem antes de emigrarem nunca falaram ou tiveram os mínimos contactos de amizade, numa tentativa muitas vezes conseguida de despertar inveja e ódios recalcados, que são ricas, quando em boa verdade muitas delas vivem nas mais miseráveis condições no país de acolhimento, como bem sabemos por experiência própria .
Estive nos EUA durante ano e meio ( 1982-1983 ) a trabalhar numa Agência de Viagens e pude constatar com muita frequência estes factos .
Trabalhei na Relvas Travel Center, na cidade de Naugatuck, Condado de New Haven - Estado de Connecticut .
Naugatuck foi fundada pelo Inglês ( ? ) John Studly em 1671 --- existem muitas e diversas referências à sua origem Irlandesa e não Inglesa, embora a história da cidade proposta durante os finais do século XIX pela edilidade o tenha como Inglês, existindo um movimento social que pretende repor a verdade da origem daquela personalidade ---, que adquiriu uma parcela de território a partir de negociações havidas com o Chefe Conquepatano, dos Índios Naugatuck também conhecidos por Derby, da sub família dos Quiripi, família dos Mohicans – Nação Lakota-Cree, que viviam junto ao rio Naugatuck .
Esta tribo falava um dialecto referido à língua algonkiniana ( ou Algonquiana ), o qual desapareceu completamente há cerca de 200 anos, tendo os seus membros sido assimilados pela Nação Algonkin --- que fala também uma língua de raiz algonkiniana, embora diferente ---, composta hoje por cerca de 8000 membros, distribuídos no Canada pelas províncias do Quebec e do Ontário. Pouco se conhece das tradições ou língua originais dos Índios Naugatuck. Dizia-se em Naugatuck, quando lá estive, que havia por ali a viver no meio da sua belíssima mata situada a oeste da cidade, uma mulher índia muito idosa, cujos ascendentes nunca teriam abandonado o local, e seria em boa verdade a última Índia de raiz Naugatuck ainda viva. Tentei por diversas vezes procurar essa senhora, mas nunca o consegui, embora gostasse de o ter conseguido a fim de saber algo mais sobre a tribo que ocupara a região em tempos idos e terá dado o nome à cidade, investigação essa que nunca se tornou preocupação mas antes um desinteresse total dos habitantes locais. Na biblioteca local pouco ou nada encontrei sobre o assunto a não ser referências aos Irlandeses que povoaram a região e que são ainda hoje a grande maioria entre todas as colónias, que compõem a cidade ( Irlandeses, Portugueses, Romenos, Portoriquenhos e Francófonos Canadianos ) .
Havia, como ficou já dito, muitos emigrantes que exportavam carros para Portugal para mostrar que agora eram pessoas abastadas, quando na verdade o dinheiro que gastavam no carro e no seu transporte ou era emprestado ou era o que lhes fazia falta para sobreviver no dia a dia … e o local que habitavam … autenticas espeluncas sem o mínimo de conforto. No Inverno, era o caos … Não havia ano em que não morriam duas ou três pessoas devido ao intenso frio, que ali se fazia sentir, bastando dizer que a média anual dos Invernos em Naugatuck rondava os 22 graus centigrados negativos .
Muitos emigrantes contactavam-me na Agência para proceder aos envios de viaturas e profissionalmente tinha de proceder aos trâmites legais, que me solicitavam, sem abrir a boca de reprovação ou de lástima. Faziam com frequência do Hall da Agência a sua sala de estar, aí permanecendo durante longas horas quase todas as tardes, que eu me recorde, a falar … a falar … do que tinham e do que não tinham … do que eram e do que não eram … e dos outros … Bisbilhotices que nada me interessavam e, antes pelo contrário, me faziam enraivecer profundamente por não me deixarem trabalhar em sossego nem ao meu amigo Wilson, também de origem portuguesa e filho do proprietário de um bar situado a um par de metros ao lado da Agência --- Sr Lamas ---.
A maioria ia de Portugal --- e creio que assim continua --- para se encafuar numa vila ou numa cidade passando a conhecer só os caminhos da fábrica e do Banco e nada mais durante toda a semana. E eram eles próprios que me contavam isto. Faziam-no anos a fio, saindo somente ao Sábado para gastar na sua grande maioria quase todo o dinheiro amealhado de 2ª. a 6ª. feira ( o grande “ Sonho Americano “, que se esfuma semanalmente ), enxafurdando-se em cerveja “ Budweiser “ num qualquer bar, Howard & Johnson ou Cofee Shop, que por ali havia, encontrando-se com os “ amigos “ e falando de coisas que não sabiam ou banalizando conversas sem nexo desprovidas totalmente de quaisquer traços culturais … e diziam que conheciam muito bem a América … Coitados … A Cultura é para eles inversamente proporcional ao seu “ modus vivendi “, ou seja, quanto menos cultura maior é o aumento da sua estupidez natural. Para eles cultura era somente sexo e futebol, pois em geral as conversas pouco ou nada mudavam de tema .
Assisti uma vez em Naugatuck a uma peça de teatro --- raríssimo evento cultural ---, que foi levada a cena por um dos meus poucos amigos, embora conhecidos tivesse muitos com quem sempre me dei bem e que ainda de tempos a tempos me enviam notícias daquelas paragens, que a escreveu e coreografou, a qual punha em causa a própria essência da família .
Resumindo: uma mulher ia para a cama com o patrão, só para que o marido subisse na escala hierárquica da fábrica onde trabalhava, colocando paralelamente a sogra num hospício, porque não estava para a aturar … e porque esta sabia tudo o que se passava com a nora … num permanente jogo de perspicácia e de maledicência dentro de um enredo muito bem conseguido e que faria, decerto, sombra a qualquer telenovela enlatada, que passa nas nossa televisões. Era um retrato fiel de grande parte da sociedade portuguesa que vivia em Naugartuck, que muito refilou na altura com essa peça posta em cena, por a considerar imoral … ou porque lhe estava avisadamente a pisar os calos ...
Regressei a Portugal por não me considerar “ mais um “ nem ter a propensão à estagnação como a maioria de todos os outros, salvo pequenas excepções que havia e ainda há, porque alguns ainda se encontram vivos. Dos únicos amigos que tive em Naugatuck, sobressaíam dois portugueses com quem desabafava as minhas apreensões e comungava das mesmas preocupações, mantendo excelentes memórias das nossas conversas. Faziam exactamente o mesmo comigo .
Dos mesmos ouvia reclamações idênticas impregnadas de revolta quanto à sociedade em que estávamos obrigados a estar inseridos. Havia necessidade de mudança, mas … como fazê-lo ? … Impossibilidade terrível … Dilema profundo …
Um, António Avelar, natural da zona de Aveiro, o autor da referida peça de teatro, era formado em Filosofia e Ciências Sociais pela Universidade de Harvard, aí sendo professor efectivo havia alguns anos, passava os seus tempos livres em investigações na Biblioteca da cidade, tendo-o acompanhado a assistir a diversas palestras culturais, que aí se realizavam prestadas por colegas seus universitários, bastas vezes nos meus tempos livres, obrigando-me pela força das circunstâncias a tirar também na Universidade de Harvard um curso, que pelo meu gosto escolhi ser de Alto Medieval na Europa    --- a Naugatuck Historical Society era muito bem provida de livros versando os temas mais variados --- cerca de 30000 muito bem conservados volumes e manuscritos espantosos pela diversidade dos seus conteúdos ---. Neles se compreendem magníficos manuscritos sobre essa tão conturbada época da Europa do século XIII e XIV --- além de originais, existem também um acervo de muitos e variados fac-similes de manuscritos e de obras interessantíssimas ---, não me cansando eu das buscas intensas que fazia sobre os mais diversos temas relacionados com a minha área de estudo sob os olhares auxiliadores do Bibliotecário da Sociedade, pessoa afável, de vastíssima cultura e sempre disposta a auxiliar-me nas minhas buscas, que variadas vezes se sentava a meu lado dando-me indicações preciosas e apontando-me as melhores formas de encontrar o que precisava, fornecendo-me inclusivamente dados no seu Arquivo Pessoal ---.
Também utilizava muitas vezes e com a mesma companhia de sempre a Howard Whittemore Library, também uma excelente Biblioteca, onde encontrava dados fundamentais para os meus estudos .
Por esse motivo, agradeço profundamente ao meu amigo Avelar as suas insistências. Fiz em pouco mais de ano e meio ( desse tempo, já estava há meio ano de novo em Portugal, quando acabei ) o que um aluno normal leva a fazer em quatro anos … Terminei o curso e gostei … O outro, o Severo, era um autodidacta,  profundo conhecedor da área de Biologia Marinha, foi-se embora para a Califórnia, por ter arranjado um lugar num Museu de Monterey na área dos seus gostos. Queria-me levar com ele e hoje penso que talvez tivesse feito mal em não ter aceite o convite que entretanto me fez … É a vida …
Se por um lado fora da minha actividade profissional me dediquei em Portugal após o meu regresso à investigação na área dos Saloios, dada a abundância de documentos existentes no espólio do meu Avô Júlio da Conceição Ivo, por outro, dediquei-me a levar a cabo e ainda hoje continuo a feitura de várias colecções, uma das quais, senão a maior privada em Portugal, pelos menos será uma das maiores, dedicada à Malacologia e Concheologia Marinha, na qual tenho mais de 80.000 espécimes de conchas com cerca de 1200 espécies diferentes. Decerto, o Severo tem também alguma responsabilidade na feitura dessa colecção, pois era uma área que ele gostava muito e muito sabia .
Todavia, considero-me uma pessoa e não um simples dado estatístico, como era tido então nos Estados Unidos, mesmo pelas autoridades consulares portuguesas, que não se preocupavam com as pessoas mas tão somente com os números indicativos da sua presença em terras americanas --- era tido como mais um … ---, revoltando-me assim contra essa situação e fazendo com que os pratos da balança pendessem para o meu regresso. É bem certo, o que o poeta disse “ … Não há machado que corte a raiz ao pensamento … “
Ao falarmos em desenvolvimento cultural entre a generalidade dos emigrantes, quando os não conhecemos, estamos com toda a certeza a brincar com coisas muito sérias, desenvolvimento esse que para eles é totalmente desprovido de sentido. Não nos ceguemos com a areia que nos atiram para os olhos lá do alto dos palanques políticos, pois a mentira é apanágio de monologas dissertações, que a todos pretendem envolver com os seus octópodes braços e … tudo o resto são cantigas ...
Se um dos mais notórios sintomas da Esquizofrenia é a procura permanente de culpados para todos os problemas pessoais e sociais, porque será que os esquizofrénicos juntam invariavelmente uma imensa dose de maldade a todos os seus actos, vilipendiando de todas as formas os seus congéneres como se estes lhes ” fizessem sombra “ --- sombra, de quê ? ---, chegando ao ignóbil ponto de cometer criminosos actos físicos e psíquicos maltratando pessoas que, embora os ignorando como seres humanos no que diz respeito às suas vidas privadas, por outro lado nunca os incentivaram de forma alguma a esses actos, atacando-os traiçoeiramente só por egoísmo, inveja, ganância, ciúme e perfídia ?
O mais curioso de tudo isto é que esta situação transborda muito para além do verosímil no facto de não se verificar a sua existência somente nas pessoas incultas, pois a constatamos especialmente numa franja dos nossos governantes e políticos para além de outros auto denominados “ importantes “ --- ditos na maioria das vezes pomposamente pelos próprios “ pessoas cultas “, que por obrigação das suas funções o deveriam ser mas que realmente o não são … e uma pessoa culta não se inflige por prazer sevícias a ninguém ...
Ninguém é “ importante “ ou “ famoso “ por nascimento, pois a importância de cada um advém da que os seus congéneres lhe atribuem. Quantas vezes ouvimos a solene pergunta : “ Sabe quem eu sou ? “ dito com aquele ar zangado e convencido de ser “ importante “, a quem gostaríamos de replicar pela demonstração da sua amnésica estupidez : “ Quando souber quem é, diga-me, quanto mais não seja por minha curiosidade em saber ou talvez possa necessitar da minha ajuda … “ --- .
Em geral, afloram-se par e passo situações, que se tornam profundamente deprimentes e que por isso nos magoam, ao vermos constantemente imagens de pessoas, que consideramos honestas, serem denegridas só pelo simples prazer de alguns de dizer mal e de outros acrescidos de obscuros objectivos, talvez não tão secretos quanto eles pensam, estabelecendo essa forma de comportamento numa alternativa à sua avassaladora mediocridade. E aí temos os “ desenraizados “, inadaptados socialmente à vida da comunidade citadina .
Todos se esquecem que no fim da vida, e acontece a todos sem excepção, levam alguns palmos de terra em cima e umas florezitas a enfeitar o “ canastro “ e se transformarão em pó ( ad pulve venistes, ad pulvem reverteris ), que a terra se encarregará de dissolver e aumentar o seu caudal metamórfico de há milhões de anos a esta parte e que há-de continuar até que um dia … um meteoro termine com o maldito martírio do global ajuizamento social, já que todos nós somos juízes em causa própria --- ninguém o deveria ser, mas efectivamente é, quer queiramos ou não, pois quando falamos de alguém estamos a ajuizá-lo, como elemento essencial na Assembleia Social do Juízo Universal --- .
E, assim, vemos os “ desenraizados “ proliferar nos corredores de S. Bento, nas nossas cidades, nos nossos condomínios, nos nossos elevadores, nas nossas empresas e nas nossas praças em enxames bravios, ataviados de casaco e gravata ou com vestidos sarapintados de bico à banda e sapatos finos, porque o hábito faz o monge, o que faz degenerar toda a sua acção vital em iníquos actos caciquistas tão frequentes por este Portugal fora .
Porque não voltam os “ desenraizados “ às suas aldeias, porque aí estarão decerto integrados, e deixam em paz os cidadãos comuns, que se estão “ positivamente nas tintas “ para a vida privada dos seus semelhantes ? … e a culpa é sempre dos outros, porque eles, coitadinhos, não têm culpa nenhuma de ter nascido bravios … autoritários … mexeriqueiros … e culinários --- sempre à procura dos tachos para os seus cozinhados sensaborões … --- .
É obvio e notório que paralelamente prolifera em abundância a hipocrisia entre os “ desenraizados “, capazes de levar às barras dos tribunais testemunhas compradas ou de baixíssimo índice ético e moral .
Pela frente, quando os favorecemos de algum modo, é só sorrisos … por trás são só machados bem afiados … e bem o sabemos como cortam. Chegam ao desplante de dizer que nunca fizeram mal a ninguém … Não se enxergam … Mas a culpa é nossa por os favorecemos com uma institucionalizada troca de favores … e permitimos, mesmo que inconscientemente, que essas situações aconteçam. Na maioria dos casos, quando acordamos, já é tarde … terrivelmente tarde … sem retorno …
Todas as lutas partidárias, as guerrinhas internas na maioria das organizações, a falta de escrúpulos da maioria das chefias nas empresas ou os falsos gestores, porque néscios na concretização de falsos projectos em que se metem para obtenção de lucros de toda a espécie incluindo os pessoais, e as lutas desmedidas pelo poder são puro resultado de acções generalizadas protagonizadas por “ desenraizados “, sendo tentáculos de um polvinho sempre em constante movimento numa procura constante de um protagonismo exacerbado, que pretendem cultivar a todo o custo. E aí encontram sempre o desgraçado do Povo --- o Alvo Sublime --- como culpado pelo que aconteceu, pelo que acontece e pelo que irá acontecer, seja o que for … e pior ainda … falando sempre em nome desse mesmo Povo, que não é havido nem achado e muito menos ouvido sobre as questões que lhes dizem respeito .
A capacidade de adaptação ao “ modus vivendi “ dos cidadãos nas cidades é sublime para alguns, muito poucos, porque sabem bem distinguir o trigo do joio, remando contra a maré da insanidade social, embora para outros seja uma total regressão às suas pessoais “ cuscas “ origens na espontaneidade alpínica das suas propensões anímicas, por sobreposição dos mais variados interesses, chegando a ultrapassar-se a si próprios em actos patéticos de desespero, como verdadeiros alpinistas sociais que são … Estes são os piores … os denominados “ desenraizados sabujos “ … que cada vez mais proliferam neste nosso Portugal e que são o exemplo de canibalismo social num estado involutivo e deprimente .
E, assim me despeço, meu muito querido Professor .
Espero ter compreendido a sua mensagem .
Um grande abraço e bem haja pelo que aprendi consigo
C J Ivo da Silva
Lisboa, 2007

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